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Estudo “Disponibilidade de Água e Alterações Climáticas” em perspetiva

Vanessa Faia

Técnica Especialista Direção de Sistemas de Gestão e Certificação, ADENE

13.04.2022

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min. de leitura

Já conhece o estudo “Avaliação das disponibilidades hídricas atuais e futuras e aplicação do Índice de escassez WEI+” promovido pela APA – Agência do Ambiente? Neste artigo vamos dar-lhe uma visão rápida e simples dos principais objetivos, resultados e conclusões. A gestão adequada dos recursos hídricos é essencial para atenuar os efeitos das alterações climáticas que se têm sentido ao longo dos últimos anos, com a ocorrência de cheias e secas (resultantes de alterações nos padrões de precipitação) mais frequentes e o aumento das temperaturas médias, e que têm afetado a disponibilidade e qualidade dos recursos hídricos. Como em qualquer plano, para gerir adequadamente os recursos hídricos é necessário saber onde estamos e para onde queremos ir. Foi, por isso, necessário quantificar as disponibilidades hídricas atuais e prever as disponibilidades futuras, caracterizar os consumos de água para conhecer as necessidades dos diversos setores e determinar o índice de escassez WEI+ por sub-bacias. Antes de apresentar os resultados do estudo, há que conhecer dois conceitos:

  • Cenários climáticos são uma representação de como o futuro se pode desenvolver que têm como base um conjunto de suposições[1].

No estudo foram considerados dois cenários: o RCP 4.5 (menos gravoso) e o RCP 8.5 (mais gravoso). O cenário RCP4.5 assenta na suposição de que haverá controlo do aumento das emissões de gases com efeito de estufa, que atingirão um máximo em meados do século XXI, enquanto que no cenário RCP8.5 é assumido um crescimento contínuo das emissões durante este século[2];

  • O índice de escassez WEI+ é definido como a razão entre o volume total de água captado e as disponibilidades hídricas renováveis.

Este índice varia entre 0 e 100%. Países com consumo dos seus recursos renováveis inferior a 10% encontram-se numa situação sem escassez e países que consomem mais de 40% dos seus recursos renováveis encontram-se em situação de escassez severa[3].     Os resultados do estudo revelam um decréscimo de 12 a 15% da precipitação nas últimas décadas, fenómeno que provocou uma redução das disponibilidades de água, e que será agravada pelo aumento expectável da temperatura em Portugal de 2ºC (RCP4.5) a 5ºC (RCP8.5), até 2100. Esta redução, aliada ao aumento dos consumos, levou ao agravamento do índice de escassez hídrica em todas as bacias tendo sido atingida uma situação de escassez severa em 3 das 10 regiões hidrográficas existentes em Portugal. Estima-se que, até ao final do século, a precipitação diminua entre 10 e 25%, e prevê-se uma variabilidade crescente das disponibilidades hídricas, que se caracterizará pela extensão da estação seca e por períodos de precipitação superiores à normal climática (i.e., ao valor verificado entre 1971 e 2000).   O autor emite algumas recomendações, como:

  • revisão de projetos a implementar com base nos dados de disponibilidades hídricas;
  • manutenção contínua das redes de monitorização da APA e do IPMA;
  • melhoria da monitorização dos volumes captados e das perdas dos diferentes setores, nomeadamente no agrícola (responsável por 70% dos volumes captados no país) e na pecuária;
  • realização de uma análise custo-benefício das medidas de adaptação a implementar;
  • avaliação rigorosa do impacte ambiental da construção de novas barragens.

Por fim, é reforçada a importância da gestão da água quer do lado da oferta, através da utilização sustentável da água e da compatibilização da qualidade da água com os usos a que se destina, quer do lado da procura, através da promoção da eficiência hídrica e da redução de perdas. Para mais informações pode ler o estudo completo e ver a sessão de apresentação realizada pela APA. Pode ainda participar na consulta pública sobre este estudo até 30 de junho.   _____________ [1] Portal do Clima [2] IPMA – Instituto Português do Mar e da Atmosfera [3] Portal do Estado do Ambiente

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Sobre o autor

Mestre em Engenharia Mecânica pelo Instituto Superior Técnico, na área de Energia. Focada em contribuir para um mundo mais eficiente, integra as equipas AQUA+ – projeto de eficiência hídrica dos edifícios – e MOVE+ – projeto de eficiência energética de frotas na área de Novos Sistemas, da ADENE – Agência para a Energia.

A ADENE é a agência nacional para a energia, com uma missão centrada nas pessoas e a ambição de reforçar o posicionamento de Portugal na descarbonização, é um parceiro ativo da transição energética, fortalecendo parcerias, dinamizando a política pública e estando mais próximo dos cidadãos. Com toda a energia!

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