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Capacidade de armazenamento do sistema eletroprodutor

Carlos Santos Silva

Professor Associado do Departamento de Engenharia Mecânica, Área Científica de Energia e Ambiente, Instituto Superior Técnico

16.05.2024

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O armazenamento de energia tem um papel fundamental no atual contexto de transição energética. A implementação de níveis consideráveis de diferentes tipos de armazenamento de energia no sistema energético implica fortes investimentos e mudanças no quadro regulatório dos mercados de energia.

Dada a relevância deste tópico, e tendo em conta o cumprimento das ambiciosas metas nacionais para as próximas décadas (Plano Nacional Energia-Clima, para o período 2021-2030 (PNEC 2030) e Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC 2050), o Observatório da Energia da ADENE promoveu a realização do estudo “Armazenamento de Energia em Portugal” entre 2020 e 2021, em articulação com a Direção-Geral de Energia e Geologia e com o Laboratório Nacional de Energia e Geologia. Permitiu, assim fornecer aos decisores políticos as bases de conhecimento necessárias à formatação dos processos conducentes à elaboração de uma estratégia nacional de armazenamento de energia.

Já em 2023, o Governo de Portugal iniciou o processo de revisão do PNEC2030, no seguimento de novas iniciativas da União Europeia como o Fit-for-55, RePOWER EU ou o Pacto Ecológico Europeu, que acarretam importantes alterações em matéria de política energética e climática. Estas iniciativas suscitaram a necessidade de revisão do PNEC 2030, que decorre até junho de 2024, para garantir o alinhamento das políticas, objetivos e metas estabelecidos anteriormente com este novo contexto internacional e comunitário.

Assim, o Observatório da Energia da ADENE promoveu a atualização do estudo de armazenamento para reavaliar as necessidades de armazenamento do sistema eletroprodutor, de acordo com as novas metas e orientações preconizadas pela revisão do PNEC2030. Pretende-se, agora, avaliar se a capacidade instalada de armazenamento no plano é suficiente para o cumprimento das metas e estimar o valor económico do armazenamento.

Tal como no estudo anterior, foram considerados não só o cenário previsto no PNEC, mas também outros cenários com evoluções de procura e capacidade instalada diferentes e diferentes tipos de regimes hidrológicos. O desempenho desses cenários foi analisado atendendo aos indicadores principais do PNEC (% de penetração de renováveis na eletricidade e emissões diretas do sistema eletroprodutor).

Considerando uma capacidade instalada de 3,9 GW de armazenamento hídrico reversível e 4 GW de armazenamento eletroquímico estacionário, os principais resultados do estudo indicam que, para todos os cenários, os objetivos de 85% de penetração de energias renováveis e emissões do sistema eletroprodutor inferiores a 4,3 Mton CO2e são plenamente atingidas. No cenário PNEC com um regime hidrológico seco, a meta da penetração de renováveis é atingida apenas se tivermos em conta a normalização da produção em função do histórico, mas em todos os outros cenários todas as metas são atingidas diretamente.

O perfil de funcionamento do armazenamento é bastante diferente, com a utilização predominante durante as horas de maior radiação solar, não só para acomodar a geração local, mas também a exportação da capacidade solar de Espanha. O número de horas de utilização dos sistemas de armazenamento aumentará significativamente quando comparado com o que ocorreu em 2021 ou 2023.  A utilização de bombagem hídrica será maior ainda em regimes hidrológicos secos, resultante da promoção da reposição dos níveis das albufeiras.

Relativamente ao valor de mercado, foi apenas contabilizado o valor no mercado diário de energia. Considerando que os preços médios do mercado de energia seja da ordem dos 45 a 54 €/MWh (preços não atualizados), o valor do armazenamento hídrico nesse mercado varie entre os 205 e os 276 M€ e o armazenamento eletroquímico entre os 11 e os 16M€.  Contudo, é expectável que o maior valor destas tecnologias resulte da sua operação nos mercados de serviços de sistema, sobretudo o armazenamento eletroquímico que apresenta maior flexibilidade de operação ao não estar sujeito à gestão do nível das albufeiras.

Concluiu-se assim, com este novo estudo, que a capacidade prevista de armazenamento para o sistema eletroprodutor no PNEC é suficiente para o cumprimento das metas previstas.   

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Sobre o autor

Carlos A. Santos Silva é Professor Associado no Instituto Superior Técnico, Departamento de Engenharia Mecânica, Área Científica de Energia e Ambiente.
Doutorado em Engenharia Mecânica, é professor no Instituto Superior Técnico desde 2008 nas áreas de modelação, gestão e otimização de sistemas de energia, onde tem ensinado e realizado investigação no planeamento energético a nível nacional e regional. É autor de mais de 120 publicações internacionais. Participou e coordenou a elaboração de diversos estudos na área de planeamento energético, nomeadamente na Estratégia para o Armazenamento em Portugal em 2020 e a sua atualização em 2023.

A ADENE é a agência nacional para a energia, com uma missão centrada nas pessoas e a ambição de reforçar o posicionamento de Portugal na descarbonização, é um parceiro ativo da transição energética, fortalecendo parcerias, dinamizando a política pública e estando mais próximo dos cidadãos. Com toda a energia!

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