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Transição energética num mundo em transformação

Pedro Fonseca

Gestor de Produto para Autoconsumo e Comunidades de Energia, E-Redes

20.05.2025

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min. de leitura

Vivemos uma era de mudança. A forma como produzimos, distribuímos e consumimos energia está a ser repensada de forma profunda. A transição energética, impulsionada pelas metas de descarbonização, não é apenas uma exigência ambiental, é também uma oportunidade de transformar a sociedade, a economia e a forma como nos relacionamos com a energia.

Um dos pilares da transição energética é a produção distribuída. Durante décadas, a produção de energia elétrica esteve centralizada nas grandes centrais. Hoje, essa lógica inverte-se: cada edifício, bairro ou empresa pode ser simultaneamente produtor e consumidor de energia. Os sistemas fotovoltaicos, as pequenas centrais eólicas e outras soluções renováveis, permitem produzir energia localmente, reduzir perdas nas redes, e democratizar assim o acesso à produção de energia elétrica.

Neste contexto, o autoconsumo dá um novo poder aos cidadãos e às empresas. A possibilidade de produzir a própria energia, consumi-la, partilhá-la ou vender excedentes na rede, não só reduz a fatura energética, como garante produção local de energia limpa – fontes renováveis – atualmente, com 1,9 GW de potência instalada, num total de cerca de 250 mil sistemas de autoconsumo a funcionar.

Quando estas iniciativas deixam de ser individuais e passam a ser coletivas, os benefícios multiplicam-se. As comunidades de energia surgem como um vetor de coesão social, desenvolvimento local e combate à pobreza energética, criando valor para as comunidades. Cidadãos, autarquias, empresas e outras entidades, juntam-se para partilhar e gerir energia renovável de forma colaborativa.

Portugal tem dado passos relevantes nesta matéria. Legisladores, governos, reguladores, agências de energia, operadores de rede e outros agentes, todos sem exceção, têm feito um trabalho notável de cooperação com o objetivo de alavancar o autoconsumo e as comunidades de energia. Muito já foi feito, mas o caminho ainda está a ser trilhado — é necessário continuar a investir na automação, digitalização e na interligação de sistemas entre os vários agentes envolvidos no processo. Simultaneamente, estes agentes devem ainda fomentar a literacia energética – apostar na proximidade com promotores, instaladores, cidadãos, empresas, municípios, comunidades intermunicipais, entre outras, através de sessões de esclarecimento e da disponibilização de informação e documentação clara e objetiva. A criação de um autoconsumo ou de uma comunidade de energia dever ser algo simples e acessível a todos, e para isso o acesso ao conhecimento e a simplificação do processo são essenciais.

A E-REDES, enquanto operador de rede, assume um papel preponderante neste processo, posicionando-se como um elemento facilitador da transição energética. A digitalização do fluxo de informação entre a E-REDES e a , iniciado nos últimos anos e em constante evolução, tem demonstrado ser essencial para dar resposta, de forma eficiente e em tempo útil, aos milhares de processos de autoconsumo e comunidades – mais de 55 mil em 2024. Paralelamente, as sessões de esclarecimento, a partilha de conhecimento, a disponibilização de manuais, realizadas em parceria com a ADENE e ERSE, dirigidas à administração pública, comercializadores e promotores, têm sido determinantes para clarificar o mercado, capacitar os agentes envolvidos e promover a literacia energética.

Adicionalmente, a E-REDES tem vindo a implementar um conjunto de iniciativas centradas nestes clientes, como a realização de diversas sessões de comunicação, a partilha proativa de informação via Portal Open Data ou através do Balcão Digital da E-REDES, a automatização dos processos e a relação digital desmaterializada.

Num contexto marcado pela crise climática, pela instabilidade dos mercados energéticos e pela crescente necessidade de reforçar a autonomia energética, a produção distribuída, o autoconsumo e as comunidades de energia assumem um papel central. Mais do que soluções técnicas, são ferramentas de cidadania, de participação ativa e de construção de um modelo energético mais sustentável e inclusivo. Simultaneamente, representam uma oportunidade concreta para o desenvolvimento económico local, a dinamização das economias regionais e a criação de emprego qualificado, contribuindo para uma transição mais justa e equilibrada.

Importa, acima de tudo, garantir que a transição energética não deixa ninguém para trás. A energia do futuro será renovável, descentralizada e colaborativa.

O futuro começa agora.

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Sobre o autor

Pedro José Fonseca é Gestor de Produto para Autoconsumo e Comunidades de Energia na E-REDES, onde coordena a relação entre o Operador de Rede e os vários agentes envolvidos no desenvolvimento de projetos de autoconsumo e comunidades de energia.
Com uma carreira dedicada à área da energia, tem experiência na ligação de grandes centros electroprodutores à rede, em sistemas de telecomando de subestações e redes AT/MT, e em projetos de fibra ótica.
É Mestre em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores pela Universidade de Coimbra.

A ADENE é a agência nacional para a energia, com uma missão centrada nas pessoas e a ambição de reforçar o posicionamento de Portugal na descarbonização, é um parceiro ativo da transição energética, fortalecendo parcerias, dinamizando a política pública e estando mais próximo dos cidadãos. Com toda a energia!

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