Na Europa, e de acordo com um estudo de 2019[3], cerca de 6.9% da população não têm possibilidades financeiras para aquecer as suas casas suficientemente. Os países onde essa insuficiência é maior são: Bulgária, com 30,1% da população a dizer que não tem essa capacidade; , Lituânia, com 26,7%; Chipre com 21,0%; Portugal com 18,9%; Grécia com 17,9 % e a Itália com 11,1%. Por oposto, os países em que esta carência é sentida apenas por cerca de 2% da população são a Finlândia, Áustria, Eslovénia, Luxemburgo, Estónia e Alemanha.
De acordo com um estudo realizado pelo ISEG[4], Portugal apresenta:
uma taxa de pobreza energética superior à média europeia quando se utiliza o indicador referente à incapacidade de as famílias manterem a sua casa adequadamente quente (23,8% em Portugal versus 9,4% na média europeia),
uma situação favorável comparativamente à média europeia quando se utilizam indicadores como:a incapacidade de pagar as faturas (7,8% em Portugal face a 9,1% na média europeia),
a elevada proporção de despesas energéticas no rendimento (15,7% em Portugal face a 16,3% em média na Europa), ou
a pobreza energética escondida (8,8% em Portugal face a15,1% da média europeia).
Dependendo dos indicadores usados para medir pobreza energética a posição de Portugal a nível europeu varia. No entanto, e tendo em conta o espírito da definição de pobreza energética como sendo a capacidade das famílias em aquecer ou arrefecer as suas casas adequadamente ou de satisfazer outros serviços energéticos a um custo aceitável, então talvez possa fazer sentido usar o indicador “manterem a sua casa adequadamente quente” como aquele que melhor reflete o problema em causa.
Portugal encontra-se assim como um dos países Europeus com uma percentagem significativa da sua população a viver em pobreza energética. Se tivermos em conta que este tipo de pobreza trás “uma série de consequências adversas para a saúde e para o bem-estar das pessoas – com doenças respiratórias e cardíacas, e saúde mental, agravada devido às baixas temperaturas e estresse associado a contas de energia inacessíveis” … então podemos concluir que … “ a pobreza energética tem um efeito indireto em muitas áreas políticas – incluindo saúde, meio ambiente e produtividade. Enfrentar a pobreza energética tem o potencial de trazer vários benefícios, incluindo menos dinheiro gasto pelos governos na saúde, redução da poluição do ar, melhor conforto e bem-estar, melhores orçamentos familiares e aumento da atividade económica.[5]
O já referido estudo do ISEG, concluiu que “uma medida de apoio ao rendimento/preço que permitisse garantir a aquisição da quantidade de eletricidade que permitiria a todos os agregados pobres energeticamente satisfazerem pelo menos 50% das necessidades energéticas para garantir os níveis padrões de consumo, ou seja garantir um gap energético medido nas famílias que são pobres energeticamente inferior a 50%, implicaria um custo global na ordem dos 382 milhões de euros por ano para eliminar a pobreza energética nos 521 mil agregados familiares que se qualificavam como pobres energeticamente. Os efeitos diretos, indiretos e induzidos gerados pela resposta a essa procura adicional são estimados num aumento do VAB de cerca de 256 milhões de euros, a criação de cerca de 3.175 postos de trabalho e uma receita para o Estado de impostos sobre os produtos na ordem dos 24 milhões de euros e uma receita de impostos diretos e contribuições para a segurança social na ordem dos 37 milhões de euros”. Torna-se assim evidente que medidas de apoio ao combate á pobreza energética em Portugal tem um efeito económico direto positivo na economia, sem contar com os impactes decorrentes da melhoria da qualidade de vida das pessoas.
O ISEG adianta ainda que as medidas que podem contribuir para reduzir as necessidades energéticas são as relacionadas com calafetagem de janelas, isolamento de coberturas e a instalação de ar condicionado. Eu adicionaria que, de uma forma geral, a eletrificação total das habitações é hoje também essencial a esta evolução, uma vez que associada à redução da pobreza energética tem de estar a redução das emissões de CO2. As botijas de gás bem como o os típicos esquentadores, deveriam também ser substituídos por equipamentos elétricos, até porque Portugal está a apostar num sistema energético renovável.
Em suma, sendo a pobreza energética um tema central na agenda Europeia e nacional, deve também ser vista como uma oportunidade para acelerar a recuperação da economia, o bem-estar e a saúde das populações, bem como a transição para um modelo económico mais verde e mais sustentável, indo ao encontro do Green Deal da Comissão Europeia e dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.