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Os desafios da mobilidade elétrica – uma oportunidade para as periferias das grandes cidades e para o interior

Álvaro Costa

Professor Associado da Faculdade de Engenharia da Universidade o Porto

30.04.2025

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A aposta na mobilidade elétrica é um desafio complexo a vários níveis e com repercussões muito profundas na organização económica, social e principalmente territorial. A motivação principal é a descarbonização, mas, no caso do nosso país, devido à capacidade instalada de produção energética a partir de fontes renováveis e às condições naturais para se aumentar a produção com as mesmas tecnologias, terá certamente impactos também importantes na balança de pagamentos. Poder-se-á diminuir muito a importação de petróleo e deixar de depender de fontes energéticas externas.

 

Mas nem tudo está a correr bem. Os fabricantes europeus de automóveis tradicionais estão com dificuldade em se adaptar aos novos desafios tecnológicos, pondo em questão o modelo de desenvolvimento da economia europeia. Isto quando se assiste ao surgimento de novas marcas e modelos, especialmente chineses.

 

As infraestruturas de carregamento não estão preparadas para este boom, assistindo-se a roturas de fornecimento, seja nos veículos privados seja nos operadores de transporte público, sendo o caso mais mediático o dos barcos da Transtejo. A sociedade em geral não está preparada para ter minas como as de exploração de lítio nos seus territórios, porque são altamente poluentes e com risco de contaminação dos aquíferos.

 

O negócio do governo português com a Mobi-e também foi infeliz e é um obstáculo à adoção rápida de veículos elétricos. Apesar de inicialmente obrigarem a um investimento representativo, estão a tornar-se mais competitivos, o que não acontece com o carregamento dos mesmos que continua com um custo elevado (sem ser doméstico).

 

E existem novas realidades, equilíbrios e oportunidades. Os territórios onde as pessoas habitam em moradias e podem carregar os automóveis a custo do consumo doméstico de energia estão a tornar-se mais competitivos em relação aos territórios mais urbanos, onde o custo de abastecimento do veículo elétrico tende a ser superior ao custo de abastecimento dos veículos a gasolina ou gasóleo, alterando de forma profunda a atratividade dos territórios. Esta poupança nos custos da mobilidade nas periferias das grandes cidades é muito elevada em relação ao que costumava ser, o que a par dos custos da habitação que dispararam nas grandes cidades, tornam mais competitivas áreas mais periféricas que estavam mais longe dos processos económicos porque são agora mais atrativas.

 

A diferença de custo da mobilidade elétrica para as soluções de carregamento nas habitações, o custo da habitação nos grandes centros urbanos, a expansão das atividades turísticas que torna alguns territórios mais difíceis de viver, a pedonalização dos centros das cidades, a par do aumento das atividades remotas com a videoconferência, está a levar a uma mudança profunda na organização territorial com o aumento da competitividade dos territórios mais periféricos onde o custo da mobilidade era, outrora, o fator mais penalizante.

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Sobre o autor

Álvaro Costa é licenciado em Engenharia Civil (FEUP), Mestre em Transportes (IST), com parte escolar do Mestrado em Economia (FEP) e PhD na Loughborough University of Technology.
Desenvolve trabalhos de investigação com artigos em publicações relevantes na área dos Transportes: Transportation Research, Transport Reviews e Journal of Air Transport Management.
Presta consultoria nas diversas áreas dos transportes para o governo, instituições financeiras internacionais, empresas privadas e organismos públicos, tendo ainda experiência em administração de empresas públicas e privadas e outras organizações.
É docente na área dos transportes e investigação operacional, lecionando atualmente as disciplinas de Transportes nos Programas de Mestrado M.EC e MPPU, e nos Programas Doutorais PRODEC e PDPT.

A ADENE é a agência nacional para a energia, com uma missão centrada nas pessoas e a ambição de reforçar o posicionamento de Portugal na descarbonização, é um parceiro ativo da transição energética, fortalecendo parcerias, dinamizando a política pública e estando mais próximo dos cidadãos. Com toda a energia!

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