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Combater a pobreza energética

Manuel Casquiço

Diretor, Comunidades de Energia e Pobreza Energética, ADENE

28.11.2022

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Com o atual aumento dos preços de energia, acentuam-se os problemas relacionados com a capacidade das famílias para manter o conforto térmico nas suas habitações que obrigam em muitos casos à utilização de equipamentos de climatização, derivado das deficientes características construtivas das suas casas. Para reduzir a fatura de energia estes são desligados, levando assim a situações de desconforto.

A nível europeu o problema também é relevante, tendo a Comissão Europeia lançado o “ “Energy Poverty Advisory Hub””, uma iniciativa que pretende contribuir para erradicar a pobreza energética e acelerar a transição para energias verdes a nível local, atuando na identificação, planeamento e execução de medidas de combate. Contribui com o desenvolvimento de guias, apoio técnicos e aponta 3 principais medidas como causa para a pobreza energética: baixos rendimentos; fraco desempenho energético das habitações e altos preços da energia. Com a conjugação destes três fatores, temos uma resultante que afeta negativamente as famílias portuguesas.

De acordo com os números indicados na proposta para a estratégia nacional de combate à pobreza energética colocada em consulta pública, mais de 3 milhões de portugueses vivem em alojamentos que não estão confortáveis durante o verão e cuja despesa com energia representa mais de 10% do total de rendimentos. Cerca de 2 milhões não o consegue fazer também no inverno e temos mais de 400 mil portugueses com dívidas, não conseguindo pagar as suas faturas de serviços de utilidade pública. São números que permitem concluir que apesar das melhorias no desempenho energético das habitações nos últimos anos, nomeadamente com a introdução do sistema de certificação energética dos edifícios em 2007, existe ainda um caminho a percorrer para que todos os portugueses possam ter acesso a melhores condições.

Para que tal possa ser possível é importante definir um conjunto de linhas de ação e acima de tudo ter em funcionamento um sistema robusto de identificação, monitorização e acompanhamento destas situações para ser possível identificar as famílias em situações de pobreza, atuar e verificar a sua evolução, para que possa ser avaliado o sucesso das medidas.

A estratégia já referida indica possíveis medidas a implementar e que a serem realizadas podem contribuir de forma decisiva para reduzir os números indicados. Uma dessas medidas, lançada através do plano de recuperação e resiliência pelo Fundo Ambiental é o programa Vale Eficiência, uma medida transversal ao território de Portugal Continental e que pretende dotar os cidadãos em situação de carência no valor de 1300 Euros + IVA, permitindo a instalação de isolamento térmico em coberturas e paredes, equipamentos de climatização eficientes e também de soluções de produção de energia. Conta com mais de 10500 vales atribuídos e 4500 obras já efetuadas.

São ações de incentivo financeiro deste tipo que conjugadas com programas de comunicação e disseminação, podem contribuir de forma decisiva para reduzir os problemas relacionados com a energia e o conforto térmico em Portugal. Existem ações que podem ser efectuadas sem necessidade de grande investimento e que podem reduzir a fatura de energia dos consumidores.

Informar é preciso e é necessário o contributo dos vários atores do mercado para que possamos caminhar para uma transição energética que envolva todos!

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Sobre o autor

Manuel Casquiço | Diretor, Comunidades de Energia e Pobreza Energética | ADENE

Com Mestrado em Ciências da Computação e Gestão Empresarial, graduação em Engenharia Civil e pós-graduação em Gestão e Estratégia Empresarial, é atualmente Diretor nas áreas de Comunidades de Energia e Pobreza Energética na ADENE cuja missão é ajudar consumidores e promotores de comunidades de energias renováveis na implementação de projetos e desenvolvimento de plataformas web para ajudar os consumidores na transição energética.
Desde 2001 desenvolve projetos e gestão de obras para diversas empresas de construção, tendo em 2007 integrado o Departamento de Obras da ADENE como Auditor verificando a qualidade do EPC emitido por peritos qualificados no âmbito do Sistema Nacional de Certificação Energética. Participou em vários projetos europeus assim como em alguns grupos da rede de Agências Europeias de Energia (Rede EnR). Até 2017 desenvolveu e coordenou vários projetos na área da eficiência energética, sempre com enfoque nas tecnologias de informação e no desenvolvimento de portais web, tendo como responsabilidades a gestão de recursos, orçamentos e prazos, bem como os respetivos planos de negócios. Em 2017, teve como missão desenvolver uma ferramenta para ajudar os consumidores a compreender melhor o mercado liberalizado de eletricidade e gás natural e avaliar as poupanças que podem ser obtidas com alterações tarifárias e/ou comercializadoras.

A ADENE é a agência nacional para a energia, com uma missão centrada nas pessoas e a ambição de reforçar o posicionamento de Portugal na descarbonização, é um parceiro ativo da transição energética, fortalecendo parcerias, dinamizando a política pública e estando mais próximo dos cidadãos. Com toda a energia!

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