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3 Perguntas a...Bruno Simplício e Filomena Boavida

Bruno Simplício e Filomena Boavida

Assessores do Conselho Diretivo da APA

21.11.2023

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  1. Que balanço faz do Programa ECO.AP, 3 anos após a entrada em vigor do ECO.AP 2030 (RCM n.º 104/2020, de 24 de novembro)?

Portugal assumiu o compromisso de promover a descarbonização da economia e a transição energética, visando a neutralidade carbónica em 2050, e assim potenciar a geração de riqueza e o uso eficiente dos recursos. O Programa ECO.AP 2030 constitui um contributo inegável para tais objetivos, porquanto encontra-se alinhado com este compromisso, relevando também a urgência para uma transição hídrica e o alargamento à melhoria da eficiência de recursos na Administração Pública. Para o efeito, o Grupo de Trabalho formado pela DGEG, ADENE e APA têm vindo a promover um vasto conjunto de iniciativas conducentes à boa execução do Programa, das quais se destacam as inúmeras ações de capacitação promovidas ao longo destes 3 anos junto dos CER e GER, a elaboração e disponibilização dos templates relativos às metas e objetivos ECO.AP e aos Planos de Eficiência, o apoio à preparação do Aviso no âmbito do Investimento TC-C13-i02, enquadrado no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e a adaptação do barómetro ECO.AP às novas exigências enquanto ferramenta informática para a execução e monitorização deste Programa. Estas iniciativas a par de um modelo de governo estruturado (com a criação do grupo atrás referido) para o acompanhamento e supervisão do Programa e da atualização do Barómetro ECO.AP permitiram uma maior interação entre todos os intervenientes facilitando o diálogo e a partilha de conhecimentos, que se traduziu numa substancial melhoria na eficácia da execução do atual Programa comparativamente com o anterior. O sucesso alcançado até aqui só foi possível graças à participação dos representantes de cada área governativa, os quais têm vindo a promover junto das suas organizações mudanças comportamentais e estruturais concorrentes para os objetivos da descarbonização e da transição energética das atividades desenvolvidas pelo Estado, no sentido de contribuir para as metas de redução de Gases com Efeito Estufa (GEE) e de consumos de energia, água e de materiais. Muito embora o balanço seja claramente positivo é de assinalar que o ritmo e envolvimento das diferentes áreas governativas são ainda distintos, pelo que é urgente o compromisso dos respetivos órgãos de gestão e a clarificação de aspetos de natureza financeira e orçamental que permitam dinamizar a aplicação dos Contratos de Gestão 2/4 de Eficiência Energética entre a Administração Pública, Empresas Industriais e as Empresas de Serviços Energéticos (ESE). De salientar, por último, que no âmbito do Orçamento do Estado para 2024, o Ministério das Finanças em articulação com a tutela do ambiente elegeram o Programa ECO.AP 2030 para o exercício de revisão de despesa a desenvolver pela OCDE. Esta iniciativa reforçará o foco nos objetivos e metas definidos na RCM n.º 104/2020, de 24 de novembro, cujos resultados permitirão apoiar o governo num melhor controlo sobre o nível de despesas agregadas e ou melhorar a priorização das despesas.

 

  1. Quais as perspetivas para o futuro do Programa e para a Administração Pública, enquanto entidade integrante na Comissão de Coordenação do ECO.AP 2030, e em particular em matérias da Água, dos Materiais e dos Gases de Efeito de Estufa?

Na Administração Pública, as oportunidades de economia de recursos por via da eficiência energética, eficiência hídrica e eficiência material estão longe de estarem esgotadas, sendo necessário um comprometimento por parte das suas instituições a par de uma alteração de comportamentos. O Programa ECO.AP 2030, pela sua abrangência, é claramente o instrumento através do qual as instituições são chamadas a dar o seu contributo para uma utilização eficiente dos recursos, valorizando a dimensão de sustentabilidade, promovendo a economia circular potenciando geração de valor económico e de melhoria do desempenho ambiental, em particular em termos da transição climática. Passados 3 anos da sua vigência, importa agora, com base na aprendizagem adquirida, reforçar a sua implementação colmatando lacunas e constrangimentos detetados ao longo deste período. A vertente hídrica e de materiais são duas das novas componentes deste Programa ECO.AP, que quando foi criado em 2011 teve na sua génese como foco principal a eficiência energética. Em consequência, é claro e notório o conjunto de medidas já implementadas por muitas áreas governativas neste domínio ao contrário das eficiências hídrica e de materiais que ainda têm um caminho a percorrer. 3/4 Estes dois novos pilares, que se traduzem na utilização consciente da água e dos materiais são questões cada vez mais centrais para a humanidade. No caso particular da água, trata-se de um recurso escasso, fundamental à vida, para o qual no atual contexto das alterações climáticas em que vivemos é essencial promover um uso consciente e eficiente. Por sua vez, o aumento da eficiência de materiais, através da adoção de boas práticas, é um contributo relevante para alcançar as aspirações do Acordo de Paris, não só porque reduz o consumo de materiais e energia, como também promove o uso responsável das matérias-primas. Através do Programa ECO.AP, estamos em crer que as entidades da Administração Pública irão desenvolver mais e melhores práticas de eficiência hídrica e de materiais nos seus edifícios. Numa primeira fase é fundamental avaliar o desempenho hídrico dos edifícios e caracterizar a situação de referência relativa ao consumo de materiais, para que a partir daí se possam adotar melhores práticas, soluções mais eficientes e resilientes (p.e. sistemas de gestão inteligente, aproveitamento de novas origens de água). Considera-se que com o aumento da procura de soluções mais eficientes e a atribuição de maior relevância ao desempenho hídrico e de materiais na esfera do Estado, se verifique a expansão de ofertas no mercado para empresas que desenvolvem e comercializam equipamentos mais eficientes. Por último, de referir que medidas ambientalmente orientadas contribuem, não só para a descarbonização da sociedade e da diminuição das emissões de GEE mas igualmente, para uma redução na despesa pública, uma vez que aumentam a eficiência do uso dos recursos e permitem a redução da produção de resíduos, descargas e emissões, promovendo, assim, uma racionalização e controlo dos custos.

 

  1. Enquanto entidade pública que integra o Programa ECO.AP 2030, como pode dar o exemplo?

Atenta à importância do Programa ECO.AP 2030, a APA, para além da nomeação atempada do seu GER e da elaboração do Plano de Eficiência, acautelou nos seus QUAR e Plano de Atividades objetivos relacionados com a temática tendo em vista o reforço das ações conducentes ao cumprimento dos objetivos do Programa. Neste sentido, aquando da preparação do Plano de Eficiência procedeu à realização de auditorias energéticas em algumas das suas instalações e em sequência submeteu, para 4/4 o edifício sede localizado em Alfragide-Amadora, uma candidatura ao PRR/FA no âmbito do “Aviso Nº 01/C13-i02/2021 Apoio à Renovação Energética dos Edifícios da Administração Pública Central”, atendendo a que das várias instalações da APA, este edifício é o que alberga o maior número de trabalhadores e tem um maior consumo de recursos. De referir, que a candidatura foi aprovada estando a decorrer os desenvolvimentos necessários para a sua prossecução com vista à substituição de vãos envidraçados, de sistemas de AVAC e de AQS bem como à instalação do sistema fotovoltaico Outras ações não menos importantes para a eficiência de recursos prendem-se com a adoção de boas práticas têm vindo a ser levadas a cabo das quais se destacam: (1) Implementação de uma infraestrutura robusta e a desmaterialização da maioria dos processos de trabalho contribuindo para a redução do consumo de papel e de consumíveis de impressão; (2) intervenção no sistema de iluminação através do retrofit da iluminação interior e exterior do edifício sede com a substituição da iluminação existente para tecnologia LED; (3) Instalação de redutores de caudais nas torneiras das casas de banho e de sistemas de descarga de autoclismos mais eficientes; (4) Aposta em medidas de reforço da adequada separação, recolha seletiva e encaminhamento de resíduos para valorização (5) Máquinas de vending de bebidas quentes, com a opção de “não disponibilização” do copo e diferenciação substancial do preço das bebidas caso a opção seja a utilização, pelos utilizadores, de recipiente próprio. Mais recentemente, e a convite da ADENE, a APA está a participar no Projeto AQUA+, o qual consiste num sistema voluntário de avaliação e classificação da eficiência hídrica de edifícios. Através deste Projeto, pretende-se classificar o desempenho hídrico do edifício sede da APA e simultaneamente obter orientações para a adoção de boas prática e intervenções de reabilitação, potenciando sempre que possível, a opção por equipamentos, sistemas e soluções que permitam um uso mais eficiente da água.

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Sobre o entrevistado

Bruno Simplício
Com formação superior na área da Química, exerce atualmente as funções de Chefe de Divisão do Gabinete de Apoio a Políticas Setoriais na Agência Portuguesa do Ambiente (APA), presta assessoria aos membros do Conselho Diretivo no desenvolvimento e execução das políticas públicas de ambiente e de desenvolvimento sustentável. Coordena as matérias de fiscalização ambiental e promove a articulação interna entre as diferentes unidades orgânicas.

Filomena Boavida
Licenciada em Engenharia do Ambiente, desempenhou durante largos anos funções de Diretora de Departamento na Agência Portuguesa do Ambiente com responsabilidade em várias matérias destacando-se Qualidade do Ar, Ruído Ambiente, Químicos, Alterações Climáticas, Emergências radiológicas e nucleares, Qualificação Ambiental e Instrumentos Voluntários de Gestão Ambiental. Atualmente presta assessoria ao Conselho Diretivo, em particular no apoio à coordenação de assuntos transversais e a na articulação interna entre as diferentes unidades orgânicas.

A ADENE é a agência nacional para a energia, com uma missão centrada nas pessoas e a ambição de reforçar o posicionamento de Portugal na descarbonização, é um parceiro ativo da transição energética, fortalecendo parcerias, dinamizando a política pública e estando mais próximo dos cidadãos. Com toda a energia!

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