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3 Perguntas a... Carlos Pimparel

Carlos Pimparel

Diretor do Serviço de Sustentabilidade Energética DGEG

20.11.2023

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1 – Que balanço faz do Programa ECO.AP, 3 anos após a entrada em vigor do ECO.AP 2030 (RCM n.º 104/2020, de 24 de novembro), e quase 13 anos após a publicação da primeira edição (RCM n.º 2/1011, de 12 de janeiro)?

 

Fazendo um comparativo entre os resultados obtidos com a primeira versão do Programa ECO.AP e com a versão atual do ECO.AP 2030, é interessante inferir que, apesar da redação da Resolução do Conselho de Ministros (RCM) n.º 104/2020 ter vindo alargar o espectro dos respetivos objetivos à eficiência hídrica e de recursos, sem deixar naturalmente de reafirmar a prioridade na eficiência energética [mantendo-se assim em linha com aquilo que foi a sua génese em resultado do articulado da Diretiva 2012/27/UE (EED)], tal não condicionou a obtenção de resultados francamente positivos nestes primeiros três anos de vigência da nova versão do Programa.

Muito pelo contrário, é muito positivo que neste período seja já possível contar com a integração de mais de 500 Gestores de Energia e Recursos (GER) em sede do Barómetro ECO.AP, 280 dos quais registados após a entrada em vigor do ECO.AP 2030. Encontram-se também já em curso para o período de 2022 a 2024 mais de 100 Planos de Eficiência.

Tais resultados muito se devem às ações desenvolvidas pelo Grupo de Coordenação do Programa, composto pela DGEG e pela APA, estas com responsabilidades de coordenação, execução, acompanhamento e supervisão, coadjuvadas pela ADENE, a quem cabe o desenvolvimento do Balcão ECO.AP 2030, a gestão do respetivo Barómetro e o apoio operacional à execução do Programa, fruto da experiência adquirida através das responsabilidades assumidas na execução da sua primeira versão.

A existência do referido Grupo de Coordenação permitiu agilizar a execução do programa, nomeadamente através da realização de um conjunto de ações de proximidade junto das várias entidades da Administração Pública Central (APC) direta e indireta, bem como das Empresas de Serviços Energéticos (ESE), estas últimas essenciais para a formalização de Contratos de Gestão de Eficiência Energética (CGEE, na nova versão resultante do Decreto-Lei n.º 50/2021, de 15 de junho, e do Despacho n.º 6227/2022, de 18 de maio), ferramenta que se crê que muito contribuirá para o sucesso dos objetivos e metas do ECO.AP 2030.

Das ações promovidas pelo Grupo de Coordenação destacar-se-iam:

  • Workshop “Dinamização de Contratos de Gestão de Eficiência Energética entre a Administração Pública, Empresas Industriais e as Empresas de Serviços Energéticos (ESE)”, realizado nos dias 25 de novembro em Lisboa e no dia 29 de novembro no Porto, nos auditórios do LNEG, que contaram com um total de 130 participantes da APC e da Indústria e 9 representantes das ESE;
  • Promoção de diversas reuniões entre as áreas governativas da APC e as ESE, com vista ao apoio no esclarecimento de dúvidas acerca dos procedimentos técnicos e legais inerentes à celebração de potenciais CGEE, que tiveram lugar nas instalações da DGEG em Lisboa e no Porto, no período de fevereiro a abril de 2023;
  • Lançamento de um questionário de auscultação à Comunidade ECO.AP para avaliar o conhecimento e interesse na temática, e identificar os principais constrangimentos e oportunidades na sua implementação do ponto de vista dos potenciais beneficiários.

 

2 – Quais as perspetivas para o futuro do Programa e para a Administração Pública, enquanto entidade integrante na Comissão de Coordenação do ECO.AP 2030, e em particular em matérias da Energia?

 

Cumpridos que estão os primeiros 3 anos do ECO.AP 2030, já é possível identificar alguns pontos de maior fragilidade nesta nova versão, para os quais o Grupo de Coordenação tem trabalhado intensamente no sentido de elaborar uma análise aturada e propor possíveis soluções tidas como mais adequadas, através da submissão de relatórios semestrais de acompanhamento. Neste âmbito, enfatizamos as dificuldades técnicas e financeiras que têm vindo a ser expressas pelas diversas entidades da APC face ao necessário diagnóstico das condições das suas instalações (p.ex.: realização de auditorias energéticas), uma vez que não dispõem internamente desses recursos e que o processo de contratação pública dificulta a aquisição externa da prestação desses serviços.

No que concerne ao futuro, a publicação da revisão da Diretiva da Eficiência Energética no passado dia 13 de setembro eleva a ambição da eficiência energética da Administração Pública também para o âmbito da Administração Local (a saber, municípios com população superior a 50 000 pessoas), alargando o espectro da renovação dos edifícios à redução do consumo de energia final de forma geral, impondo novas metas neste sentido. Desta feita, o ECO.AP 2030 parece afigurar-se como a melhor ferramenta para corporizar as necessárias evoluções impostas por este novo enquadramento comunitário.

Em paralelo com estes desafios, o Grupo de Coordenação do ECO.AP 2030 tudo fará para continuar a dinamizar ações de esclarecimento e de apoio a todas as entidades que compõem esta Comunidade (tentando da melhor forma suprir os constrangimentos de falta de recursos humanos e administrativos), apoiando a vontade já demonstrada pelos os responsáveis dos organismos da APC de avançar no sentido da melhoria da eficiência energética, hídrica e de utilização de recursos nas instalações dos organismos que dirigem, mantendo o seu exemplo de dinamismo e de envolvimento que tem deixado uma marca muito positiva nos organismos da APC.

 

3 – Enquanto entidade pública que integra o Programa ECO.AP 2030, como pode dar o exemplo?

A DGEG não poderia deixar de dar estrito cumprimento às obrigações que decorrem do ECO.AP 2030, pelo que rapidamente acautelou a nomeação do seu GER e diligenciou no sentido da elaboração do seu Plano de Eficiência.

Este estrito cumprimento é uma premissa irrenunciável, ou não seja a DGEG a entidade com responsabilidades de fiscalização do cumprimento das obrigações decorrentes da RCM n.º 104/2020.

Aliás, em linha com o acautelar do exercício desta responsabilidade, foram remetidos por esta Direção-Geral mais de 1500 ofícios no ano de 2022 e mais de 500 ofícios só no primeiro semestre do ano de 2023, dirigidos a todos os organismos da APC em incumprimento das obrigações decorrentes do ECO.AP 2030, os quais têm impactado diretamente na concretização de um número significativo de regularizações, bem como numa melhor e mais fina determinação do universo de entidades tidas como integrantes do âmbito do Programa ECO.AP, muito em consequência das recentes questões decorrentes da descentralização de competências.

 

S

Sobre o entrevistado

Licenciado em Engenharia.
Técnico Superior do quadro da Direção Geral de Energia e Geologia, onde trabalha desde 1985.
A desempenhar funções de Diretor do Serviço de Sustentabilidade Energética.
Envolvido na criação e implementação da legislação relativa ao 1º Regulamento de Gestão dos Consumos de Energia (Decreto-lei 58/82) bem como na sua extensão ao sector dos transportes (Portaria 228/90) e dos regulamentos subsequentes como o atual SGCIE (Decreto-lei 71/2008)
Envolvido na criação e implementação da legislação relativa ao Sistema de Certificação Energética de Edifícios (Decretos Lei 78/2006, 79/2006 e 80/2006), Decreto Lei 118/2013 e Decreto Lei 101-D de 2020.
Envolvido na criação, analise e acompanhamento de sistemas de financiamento até 2006, a projetos de eficiência energética na indústria e edifícios, tendo como referência, por exemplo, o financiamento do Pavilhão Atlântico e Climaespaço na Expo 1998, das Torres de Lisboa e da sede do BCP no Porto entre muitos outros também no setor industrial.
Formação complementar em auditoras energéticas na indústria em todos os setores de atividade.
Formação complementar em geradores de vapor, termofluido e calor.
Formação complementar em reengenharia de processos.
Realização de auditorias energéticas em indústrias de vários setores de atividade.
Representante da DGEG no Comité da Diretiva da Eficiência Energética e nas reuniões da ação concertada.
Co Representante da DGEG no Comité da Diretiva da Eficiência Energética nos Edifícios.
Co Representante da DGEG nas reuniões da AIE relativas a eficiência energética.
Representante da DGEG, no grupo de coordenação da ELPRE-Estratégia de Longo Prazo para a Renovação do Edificado.
Representante da DGEG, do Grupo de Trabalho do ECO-AP-Programa de Eficiência Energética na Administração Publica.
Co-Rresponsável pelo processo de qualificação de ESE’s- Empresas de Serviços.

A ADENE é a agência nacional para a energia, com uma missão centrada nas pessoas e a ambição de reforçar o posicionamento de Portugal na descarbonização, é um parceiro ativo da transição energética, fortalecendo parcerias, dinamizando a política pública e estando mais próximo dos cidadãos. Com toda a energia!

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