Em 2022, o setor dos transportes foi responsável por 35,4% dos consumos de energia final [1] e por 30,3% das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) em Portugal [2], sendo o setor com mais impacto. Por este motivo, é um dos setores chave para a descarbonização e para atingir a neutralidade carbónica até 2050, sendo necessário reduzir as suas emissões em 40% até 2030, face a 2005 [3]. Entre 2005 e 2022, as emissões de GEE diminuíram 14%, no entanto, a única redução verificada no período entre 2014 e 2022 ocorreu no ano de 2020, altamente impactado pela pandemia Covid-19, tendo aumentado em todos os outros anos.
Em Portugal, 66% da população utiliza o carro para as suas deslocações diárias [4] e as viaturas em circulação ainda são maioritariamente a gasolina e gasóleo. Como conseguimos inverter esta tendência e descarbonizar o transporte de passageiros?
- Descarbonização das viaturas
Apesar de o número de veículos em circulação ter presumivelmente aumentado em 2023, houve um decréscimo dos veículos ligeiros a gasolina e gasóleo, devido à crescente eletrificação [5]. A quota de mercado anual dos veículos 100% elétricos tem vindo a aumentar nos últimos anos e atingiu, em 2024, os 20% [6].
Para este aumento têm contribuído os avisos do Fundo Ambiental destinados à aquisição de veículos 100% elétricos e à aquisição e instalação de carregadores de veículos elétricos nos edifícios residenciais, bem como os benefícios fiscais (isenção do imposto sobre veículos e do imposto único de circulação).
Também os autocarros têm vindo a ser eletrificados a elevada velocidade, com fundos do Plano de Recuperação e Resiliência. Em 2024 existiam 8 vezes mais autocarros elétricos do que há 5 anos e as vendas de autocarros novos elétricos atingiram os 69%.
- Transferência para meios de mobilidade suave e transporte público
Com o transporte público cada vez mais eletrificado, é agora importante fomentar a transferência para meios de mobilidade mais sustentáveis. Em 2023 houve um aumento da utilização dos transportes públicos, destacando-se o aumento do uso do transporte ferroviário, que ultrapassou os valores pré-pandemia. Este aumento da procura deveu-se provavelmente às medidas de redução tarifária adotadas, como o Programa de Apoio à Redução Tarifária (PART), entretanto substituído pelo Programa Incentiva+TP.
Para reter os novos utilizadores de transporte público é necessário garantir uma oferta de qualidade, assegurando pontualidade e regularidade dos transportes bem como uma integração dos vários meios de transporte público.
Para permitir um melhor planeamento das viagens por parte dos utilizadores é essencial a aposta em sistemas de informação dos horários dos transportes em tempo real. Além disso, para potenciar a intermodalidade, é importante ter a possibilidade de planear as viagens em meios de transporte diferentes, por exemplo, através de aplicações de mobilidade-como-serviço, eliminando a necessidade de vários bilhetes para uma mesma viagem e garantindo horários ajustados para a interligação de vários serviços, em particular entre os serviços de transporte suburbanos ou urbanos e de longo curso.
Todas as mudanças relacionadas com a mobilidade requerem também alterações comportamentais por parte das pessoas, pelo que é essencial garantir o acesso a informação e sensibilizar toda a população para as vantagens dos meios de mobilidade suave e do transporte público, bem como envolver as comunidades na construção dos Planos de Mobilidade Urbana Sustentáveis das cidades.
Referências
[1] Energia em Números 2024
[2] Inventário Nacional de Emissões 2024
[3] Plano Nacional Energia e Clima 2021-2030, de 1 de outubro de 2024
[4] Censos 2021
[5] Estatísticas dos transportes e comunicações 2023
[6] Vendas de veículos elétricos em Portugal