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3 Perguntas a ... Jan Dusík

Jan Dusík

Sub-Diretor Geral da Direção-Geral da Ação Climática (DG-CLIMA), Comissão Europeia

07.11.2024

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1. O Pacto de Autarcas para o Clima e Energia é uma iniciativa pioneira de diálogo entre a Comissão Europeia e as autoridades locais. Como pode o Pacto de Autarcas da União Europeia (UE) contribuir para promover uma governação a vários níveis, ou seja, uma melhor integração do planeamento local nas políticas nacionais e europeias? Qual a importância da voz dos autarcas na política climática europeia?

Quando foi lançado há 15 anos, o Pacto de Autarcas para o Clima e Energia foi a primeira iniciativa destinada a traduzir a política energética e climática da UE em ações locais. Ajuda os municípios a avaliar as emissões e as vulnerabilidades e a estabelecer planos de ação sólidos para alcançar a neutralidade climática e reforçar a resiliência a nível local. Embora outras iniciativas também respondam às necessidades das cidades, o Pacto continua a ser uma peça central, estando aberto a todos os municípios, independentemente da sua dimensão ou nível de preparação, e abrangendo simultaneamente a mitigação, a adaptação e a transição justa. Além disso, oferece um quadro para a governação multinível, promovendo o alinhamento das políticas e do financiamento por toda a UE, a nível nacional, regional e local.

Os autarcas são atores fundamentais na aplicação do Pacto Ecológico. Nas suas cidades e municípios, são responsáveis por uma grande parte dos investimentos necessários para a transição e pela prestação dos serviços sociais necessários para não deixar ninguém para trás. Com mais de 13 000 signatários em todo o mundo, o Pacto não é apenas a maior rede de autarcas existente, é também uma plataforma para dialogar diretamente com os líderes europeus e mundiais e partilhar os desafios que os autarcas enfrentam no terreno. Encontrei-me pessoalmente com muitos autarcas do Pacto e obtive sempre informações importantes sobre como apoiar melhor a aplicação do Pacto Ecológico no terreno.

 

2. Um relatório recente do Comité das Regiões identificou 26 iniciativas financiadas pela UE que visam apoiar a ação climática local. Como se pode conseguir uma colaboração mais ativa entre estas iniciativas, com o objetivo de as tornar mais eficientes e acessíveis aos municípios e às regiões?

A importância que a Comissão Europeia atribui às cidades manifesta-se no grande número de iniciativas que respondem às suas múltiplas necessidades. No entanto, o número e a variedade de iniciativas podem também tornar-se um fardo para os municípios. Os autarcas expressam frequentemente a sua dificuldade em lidar com as múltiplas exigências, enquanto se debatem com uma capacidade administrativa cada vez mais reduzida. As orientações políticas para a nova Comissão apelam ao desenvolvimento de uma nova visão ambiciosa para as zonas urbanas, para as ajudar a enfrentar os múltiplos desafios com que se deparam. Esta visão terá de incluir uma reformulação das iniciativas existentes. O modelo de governação multinível, promovido pelo Pacto de Autarcas, será uma referência para orientar esta reorganização.

3. O mais recente compromisso e pilar do Pacto de Autarcas para o Clima e Energia é o combate à pobreza energética, considerando-a uma ação essencial para garantir uma transição justa. Como é que este pilar está a ser considerado na política da UE e como é que os autarcas, ao abrigo dos compromissos do Pacto, podem participar neste processo com o seu planeamento e estratégias, a nível regional e local?

A transição climática exige uma profunda transformação socioeconómica. Desde o início, a transição justa foi um pilar fundamental do Pacto Ecológico Europeu, nomeadamente através da criação do Fundo Social para o Clima. Nos últimos cinco anos, primeiro a pandemia de COVID-19, e depois a crise energética, mostraram ainda mais a necessidade de abandonar os combustíveis fósseis, para garantir a segurança energética e a independência estratégica, sem deixar ninguém para trás. A luta contra a pobreza energética é o terceiro pilar do Pacto de Autarcas. Com o apoio da Plataforma de Aconselhamento sobre Pobreza Energética, os municípios podem avaliar as vulnerabilidades e adotar as soluções certas para fazer da transição para as energias renováveis uma oportunidade não só para o planeta, mas também para as pessoas.

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Sobre o entrevistado

Jan Dusík, Diretor-Geral Adjunto, DG Clima, Comissão Europeia

Jan Dusík, de nacionalidade checa, tem uma vasta experiência profissional de quase 30 anos no domínio da ação climática. Ao longo do seu notável envolvimento em questões climáticas, tem um historial substancial de negociações a nível sénior, demonstrando uma sólida capacidade de liderança, juntamente com a habilidade de conceber soluções inovadoras relativamente a desafios políticos complexos.

Jan Dusík tem uma longa carreira no Ministério do Ambiente Checo, onde teve várias responsabilidades, incluindo as negociações de adesão e, posteriormente, as relações com a União Europeia (UE) no setor do ambiente. Entre outras, coordenou com êxito as atividades de diplomacia climática da República Checa durante a Presidência Checa do Conselho da UE em 2022 e liderou as negociações ministeriais durante a COP27 em nome da UE. Dusík é também membro sénior do programa Ártico do Fundo Mundial para a Natureza (WWF). Em fases anteriores da sua carreira, trabalhou como Ministro Adjunto para a proteção do clima no Ministério do Ambiente checo, como Conselheiro Principal para o compromisso estratégico para o Ártico e a Antártida no Programa das Nações Unidas para o Ambiente e como Diretor Regional e Representante Regional para a Europa no Programa das Nações Unidas para o Ambiente, em Genebra.

A ADENE é a agência nacional para a energia, com uma missão centrada nas pessoas e a ambição de reforçar o posicionamento de Portugal na descarbonização, é um parceiro ativo da transição energética, fortalecendo parcerias, dinamizando a política pública e estando mais próximo dos cidadãos. Com toda a energia!

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